Artrite inflamatória juvenil e diabetes
Os resultados de um estudo envolvendo mais de 9.000 pacientes, apresentado no EULAR 2016, mostraram que o diabetes tipo 1 ocorre numa frequência significativamente maior em pacientes com artrite inflamatória juvenil (AIJ) do que na população em geral. Uma melhor compreensão desta ligação entre diabetes e AIJ pode levar a novas intervenções preventivas e terapêuticas em ambas as doenças. “A artrite inflamatória juvenil é a doença reumática crônica mais comum da infância, afetando cerca de 20-150 crianças em cada 100.000. Ela é definida como uma inflamação crônica das articulações sinoviais, com causa desconhecida, que pode começar em crianças, mesmo bem novinhas, com um ano de idade, e que persiste por pelo menos seis semanas. A AIJ provoca dor, inchaço e rigidez das articulações, e, por vezes, exantema e febre. Apesar dos avanços no tratamento, a AIJ pode fazer com que muitas crianças fiquem foram da escola e não participem das atividades físicas”, afirma o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti, diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares (Iredo), que esteve presente ao evento, que aconteceu em Londres, entre 08 e 11 de junho. Nos últimos anos, avanços importantes têm sido feitos na compreensão dos chamados genes de suscetibilidade que contribuem para diferentes doenças autoimunes. Está se tornando claro que, apesar das diferenças clínicas aparentes entre as doenças autoimunes, elas compartilham uma série de fatores de risco genéticos. Crianças e adolescentes com AIJ são, portanto, suscetíveis de desenvolver outras doenças autoimunes. “Há um claro aumento na prevalência de artrite inflamatória juvenil em jovens com diabetes tipo 1 em comparação com a população pediátrica em geral. No entanto, este estudo mostra a correlação inversa: que o diabetes tipo 1 ocorre mais frequentemente em pacientes com AIJ. O próximo passo é explorar em detalhes os fatores e mecanismos que ligam as duas doenças e confirmar que estes resultados são aplicáveis a outras áreas geográficas, onde diferentes fatores ambientais e genéticos estão em jogo. Ao compreender melhor esta ligação, poderemos ser capazes de desenvolver novas intervenções preventivas e terapêuticas”, diz o diretor do Iredo. O estudo incluiu 9.359 pacientes com AIJ, com idade média de 12 anos, e uma duração média da doença de 4,5 anos, registrados na base de dados pediátricos reumatólogicos alemães, entre 2012 e 2013. O diabetes tipo 1 foi diagnosticado em 50 dessas crianças, o que equivale a uma predominância de diabetes de 0,5%. Em comparação com uma amostra de idade e sexo da população em geral, a prevalência de diabetes em pacientes com AIJ foi significativamente maior, com aproximadamente o dobro da razão de prevalência de diabetes em pacientes com AIJ em relação aos controles (1,92 para as meninas e 2,04 para os meninos). Mais da metade dos pacientes (58%) desenvolveram diabetes antes de AIJ. O aparecimento do diabetes aconteceu, em média, cinco anos antes do início da AIJ. A maioria desses pacientes não tinha recebido qualquer drogas anti-reumática antes do início da sua diabetes. Os pacientes com diabetes tipo 1 não diferiram significativamente no espectro de gravidade da sua AIJ em comparação com aqueles sem diabetes.