Gota: internações seriam evitáveis?

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Um melhor atendimento clínico poderia impedir a maioria dos casos de gota que requerem hospitalização, de acordo com os resultados de pesquisas apresentadas durante o ACR 2014. “A gota é uma doença crônica que envolve inchaço, dor e vermelhidão nas articulações. A doença geralmente ataca as articulações dos tornozelos e dos pés, especialmente do dedão do pé. Ocorre quando o excesso de ácido úrico acumula-se no corpo e os cristais de urato se depositam nas articulações. Isto pode acontecer devido a um aumento na produção de ácido úrico, ou mais frequentemente, quando os rins não conseguem remover o excesso de ácido úrico do corpo”, explica o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti, diretor do Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares (Iredo). Para chegar às conclusões apresentadas, os pesquisadores analisaram dados retrospectivos em 56 pacientes internados em num hospital americano com o diagnóstico primário de gota, entre 2009-2013. O objetivo era determinar quantas dessas internações seriam evitadas com melhores intervenções e manejo clínico. A prevenção de hospitalizações por gota também poderia reduzir os custos com os cuidados de saúde. Os pesquisadores definiram uma internação hospitalar como evitável quando o paciente já tinha o diagnóstico primário de poliartrite, e posteriormente era diagnosticado como gota, durante a internação, sem nenhuma outra doença concomitante durante a internação. Eles também analisaram as características demográficas, incluindo o diagnóstico clínico na admissão, história prévia de gota, possíveis fatores de risco para a gota (como diabetes, doença cardiovascular, doença renal crônica e uso de diurético, uso de aspirina em baixas doses), medicamentos para  gota, níveis séricos de ácido úrico dentro de um ano antes da internação, tempo de doença reumática, procedimentos cirúrgicos realizados e  custos de hospitalização. Segundo os autores do estudo, na Reumatologia, o paciente recorre muito ao atendimento de emergência, por isso surgiu a hipótese de que muitas destas internações por gota eram desnecessárias. Como o paciente busca muitas vezes a emergência, em vez de ir ao consultório do seu reumatologista, em busca do alívio imediato da dor, isso fazia a internação ser a decisão mais apropriada. “Os autores do estudo defendem que os resultados podem estimular o interesse em um esforço de todo o sistema para criar uma iniciativa de melhores cuidados em relação à gota. É preciso uma abordagem multifacetada para melhor lidar com este problema”, explica o diretor do Iredo. Das 56 internações por gota estudadas, os pesquisadores descobriram que 50 (89%) preencheram a definição do estudo de internação evitável. Os diagnósticos clínicos incluíram 76% artrite séptica, 14% poliartrite inflamatória e 8% celulite. Das 50 internações evitáveis, 33 pacientes foram submetidos à artrocentese, 24 dos quais foram realizados na emergência. Trinta e cinco (70%) dos pacientes tinham história prévia de gota, e 21 (42%) tinham três ou mais fatores de risco para a gota. Dos 35 pacientes com história prévia de gota, 74% eram acompanhados por seu médico de cuidados primários, e 26% estavam sendo acompanhados por um reumatologista. Dos 26 pacientes tratados por médicos de família, oito (31%) faziam terapia de redução de urato e cinco (19%) estavam em profilaxia de colchicina. Havia 23 pacientes cujos níveis séricos de ácido úrico foram registradas no prazo de um ano da sua hospitalização, e 18 (78%) destes pacientes não atingiram a meta de <6 mg / dL. Dos 15 pacientes em tratamento de gota, a longo prazo, 33% eram não-conformes com os seus planos de tratamento. Três pacientes no estudo foram submetidos a procedimentos ortopédicos, incluindo uma amputação do dedo do pé e dois debridamentos artroscópicos, e subsequentemente foram diagnosticados como tendo gota. “Os autores do estudo concluíram que 89% das hospitalizações com diagnóstico primário de gota eram evitáveis. Eles notaram várias lacunas importantes nos cuidados clínicos e observaram que as pessoas com gota incorrem em custos de saúde desnecessários e dispendiosos na sala de emergência, além de despesas de cuidados de admissão evitáveis”, destaca Sergio Lanzotti. [/et_pb_text][/et_pb_column] [/et_pb_row] [/et_pb_section]